segunda-feira, 31 de julho de 2017

21 - O Pastor de Hermas (155) 1ª a 5º Parábolas - Capítulos 47 a 60

21
Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
O Pastor de Hermas (155)
1ª a 5º Parábolas - Capítulos 47 a 60

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CAPÍTULO 47
Ele me disse isso de modo tão indignado, que fiquei confuso e com muito medo. Sua aparência se alterou de tal modo que nenhum homem poderia suportar sua ira. Vendo-me completamente perturbado e confuso, começou a falar-me de modo mais brando e sereno, dizendo: “Tolo, insensato e vacilante! Não compreendes que a glória de Deus é grande, forte e admirável? Ele não criou o mundo para o homem e não lhe submeteu toda a sua criação, dando-lhe o poder de dominar todas as coisas que existem debaixo do céu? Portanto, se o homem é o senhor de todas as criaturas de Deus e domina sobre todas, será que ele não pode dominar também esses mandamentos? Somente o homem que leva o Senhor em seu coração é capaz de dominar todas as coisas e todos esses mandamentos. No entanto, para os que têm o Senhor somente nos lábios, e cujo coração está endurecido e estão distantes de Deus, esses preceitos são duros e inacessíveis. Esteja o Senhor em vosso coração, vós homens vazios e levianos na fé, e sabereis que não há nada mais fácil, suave e simples do que esses mandamentos. Convertei-vos, vós que seguis os mandamentos do diabo, mandamentos difíceis, amargos, brutais e licenciosos, e não temais o diabo, pois ele não tem poder nenhum sobre vós. Eu, o anjo do arrependimento, que triunfo sobre o diabo, estarei convosco. O diabo só pode amedrontar, mas esse medo não tem força alguma. Não o temais, portanto, e ele fugirá de vós.”

CAPÍTULO 48
Eu lhe disse: “Senhor, escuta ainda algumas palavras.” Ele respondeu: “Dize o que queres.” Eu continuei: “Senhor, o homem tem o desejo de guardar os mandamentos de Deus, e ninguém deixa de pedir ao Senhor que o reforce nos seus mandamentos e o submeta a eles. O diabo, porém, é duro, e domina os homens.” Ele me respondeu: “Ele não conseguirá dominar os servos de Deus, se estes, de todo coração, nele tiverem esperança. O diabo é capaz de combater, não porém de triunfar. Se lhe resistirdes, será derrotado e, envergonhado, fugirá de vós. Todavia, aqueles que são vazios temem o diabo como se ele tivesse poder. Quando um homem enche de bom vinho recipientes apropriados e entre estes deixa alguns semicheios, ao voltar para os recipientes ele não se preocupa com os que estão cheios, pois sabe que estão cheios; observa, sim, os que estão semicheios, temendo que tenham azedado, e o vinho perca o sabor. O mesmo acontece com o diabo: Ele vai e tenta todos os servos de Deus. Os que estão cheios de fé lhe resistem fortemente, e o diabo se afasta deles, pois não encontra por onde entrar. Então, ele vai até os que estão semicheios e, encontrando lugar, entra neles, faz o que quer, tornando-os seus escravos.”

CAPÍTULO 49
“Eu, o anjo do arrependimento, vos digo: não temais o diabo, pois fui enviado para estar com aqueles de vós que de todo o coração fazem arrependimento, para os fortificar na fé. Portanto, crede, em Deus, vós que, por causa dos vossos pecados, desesperastes da vida e acrescentais pecados a pecados, agravando assim profundamente a vossa própria vida. Se vos converterdes ao Senhor de todo o vosso coração e praticardes a justiça pelo resto dos dias de vossa vida; se o servirdes retamente, conforme a sua vontade, ele vos curará de vossos pecados passados e não vos faltará força para dominar as obras do diabo. Não temais de modo nenhum a ameaça do diabo, pois ele, como nervos de cadáver, não tem força nenhuma. Escutai, portanto, e temei aquele que pode salvar ou destruir tudo; observai seus mandamentos e vivereis em Deus.” Eu lhe pedi: “Senhor, agora estou fortificado em todos os mandamentos do Senhor, porque estás comigo. Sei que abaterás todo o poder do diabo e que nós o dominaremos, e venceremos todas as
suas obras. Senhor, espero que, fortalecido pelo Senhor, eu possa guardar os preceitos que me deste.” Ele me respondeu: “Tu os guardarás, contanto que teu coração permaneça puro, voltado para o Senhor. Todos aqueles que os guardarem, purificando o coração dos desejos vazios deste mundo, viverão em Deus.”



PRIMEIRA PARÁBOLA
CAPÍTULO 50

Ele me disse: “Vós, servos de Deus, sabeis que habitais em terra estrangeira. De fato, vossa cidade acha-se longe desta cidade. Portanto, se conheceis vossa cidade, aquela que deveis habitar, por que correis assim atrás de campos, instalações luxuosas, palácios e mansões inúteis? Quem procura tais coisas nesta cidade não espera retornar à sua própria cidade. Insensato, vacilante, homem infeliz! Ignoras que tudo isso é estrangeiro e está em poder de outro? De fato, o dono desta cidade dirá: 'Não quero que habites na minha cidade. Vai embora daqui, porque não obedeces às minhas leis'. Então, tu, que possuis campos, casas e muitos bens, ao ser expulso por ele, o que farás com teu campo, tua casa e tudo o que te resta do que acumulaste? Porque o dono desta cidade te diz justamente: 'Ou obedeces às minhas leis, ou sais do meu país'. Portanto, o que farás, tu que segues a lei da tua cidade? Por causa de teus campos e do resto de teus bens, renegarás tua lei e andarás de acordo com a lei dessa cidade? Atenção! É perigoso renegar tua lei, porque, se queres retornar à tua cidade, temo que não te acolham mais, por teres renegado a lei de tua cidade, e assim sejas excluído dela. Vigia, portanto. Visto que moras em terra estrangeira, não reserves para ti senão o estritamente necessário, e estejas pronto. Desse modo, quando o dono dessa cidade quiser te expulsar, porque te opões às suas leis, sairás da sua cidade, chegarás à tua, e aí viverás conforme tua lei, sem prejuízo e com alegria. Atenção, vós que servis ao Senhor e o tendes no coração. Praticai as obras de Deus, lembrando-vos de seus mandamentos e das promessas que ele vos fez. Crede que ele as manterá, se seus mandamentos forem observados. Em lugar de campos, resgatai os oprimidos, conforme cada um puder; visitai as viúvas e os órfãos, e não os desprezeis. Gastai vossas riquezas e todos os vossos bens, que recebestes de Deus, nesses campos e casas. De fato, o Senhor vos enriqueceu, para que presteis a ele tais serviços. E melhor adquirir esses campos, bens e casas, que reencontrarás em tua cidade, quando aí retornares. Esse investimento é nobre e alegre, não produz tristeza, nem medo, mas alegria. Não procureis o investimento dos pagãos, perigoso para os servos de Deus. Fazei vossos próprios investimentos, com os quais podeis alegrar-vos. Não cometais fraude, não toqueis nos bens de outros, nem os desejeis, porque é mau desejar os bens alheios. Realiza tua tarefa, e serás salvo.”

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SEGUNDA PARÁBOLA
CAPÍTULO 51

Caminhava eu para o meu campo e, observando um olmeiro e uma videira, refletia sobre essas árvores e seus frutos. Então o Pastor me apareceu e disse: “O que pensas sobre o olmeiro e a videira?” Eu respondi: “Senhor, penso que eles se completam perfeitamente.” Ele disse: “Essas duas árvores existem para servir de modelo aos servos de Deus.” Eu pedi: “Desejaria saber o modelo que podem oferecer essas árvores das quais falas.” Ele perguntou: “Vês o olmeiro e a videira?” Respondi: “Sim, senhor.” Ele continuou: “A videira produz frutos, mas o olmeiro é estéril. Entretanto, se essa videira não se prende ao olmeiro, fica estendida no chão e não produzirá frutos. Os frutos que produzir apodrecerão, se ela não estiver suspensa no olmeiro. Vês, portanto, que o olmeiro também dá muitos frutos, não menos que a videira, e até mais.” Eu perguntei: “Por que mais, Senhor?” Ele respondeu: “Porque a videira suspensa no olmeiro dá muitos frutos belos, ao passo que estendida no chão só produz frutos podres e poucos. Essa parábola vale para os servos de Deus, o pobre e o rico.” Eu perguntei: “Senhor, como assim? Explica-me.” Ele respondeu: “Escuta. O rico tem muitos bens, mas aos olhos do Senhor ele é pobre, porque se distrai com suas riquezas. A oração e a confissão ao Senhor não lhe são importantes e, se ele as faz, são breves, fracas e sem nenhum poder. Contudo, se o rico se volta para o pobre e atende às suas necessidades, crendo que o bem que ele fez ao pobre poderá encontrar sua retribuição junto a Deus (porque o pobre é rico por sua oração e confissão, e sua oração tem grande poder junto de Deus), então o rico atende sem hesitação às necessidades do pobre. Assim, o pobre, socorrido pelo rico, reza por ele e agradece a Deus pelo seu benfeitor; este, por sua vez, redobra o zelo para com o pobre, para que não lhe falte nada na vida, pois sabe que a oração do pobre é bem acolhida e rica junto a Deus. Desse modo, ambos cumprem sua tarefa: o pobre o faz mediante sua oração, que é sua riqueza recebida do Senhor. Ele a devolve ao Senhor na intenção daquele que o ajuda. E o rico, sem hesitação, dá ao pobre a riqueza que recebeu do Senhor. Essa é uma ação nobre e bem acolhida por Deus, porque o rico compreendeu perfeitamente o sentido da sua riqueza e partilhou com o pobre os dons do Senhor, cumprindo assim, convenientemente, a sua tarefa. Para os homens, o olmeiro parece não produzir fruto. Eles não ignoram e não compreendem que, se vier seca, o olmeiro, que conserva água, nutre a videira, e esta, continuamente provida de água, produz o duplo de frutos, para ela mesma e para o olmeiro. Da mesma forma, os pobres, rezando ao Senhor para os ricos, asseguram pleno desenvolvimento às riquezas deles. Por sua vez, os ricos, atendendo às necessidades dos pobres, dão satisfação à sua alma. Portanto, ambos participam da ação justa. Quem age assim não será abandonado por Deus, mas será inscrito no livro dos viventes. Felizes os que possuem e compreendem que o Senhor preserva suas riquezas, pois aquele que o compreende poderá também prestar bons serviços.”

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TERCEIRA PARÁBOLA
CAPÍTULO 52
Ele me mostrou muitas árvores sem folhas, que me pareciam mortas, e eram todas semelhantes. E me perguntou: “Vês essas árvores?” Respondi: “Sim, senhor, eu as vejo: são semelhantes e mortas.” Ele continuou: “Essas árvores que vês são os habitantes deste mundo.” Eu perguntei: “Senhor, então por que são semelhantes e mortas?” Ele respondeu: “Porque os justos e os pecadores não se distinguem neste mundo, mas são semelhantes. De fato, para os justos este mundo é inverno, e eles não se distinguem, pois nele habitam juntamente com os pecadores. No inverno, despojadas de suas folhas, as árvores são semelhantes, e não se distingue quais estão mortas e quais vivas. Da mesma forma, os justos e os pecadores não se distinguem neste mundo; são todos semelhantes.”

QUARTA PARÁBOLA
CAPÍTULO 53
De novo, ele me mostrou muitas árvores, umas verdes e outras secas. E me disse: “Vês essas árvores?” Respondi: “Sim, senhor, eu as vejo: umas estão verdes e outras secas.” Ele continuou: “As árvores verdes são os justos, que habitarão no mundo que está para chegar. De fato, o mundo que está para chegar será verão para os justos e inverno para os pecadores. Portanto, quando brilhar a misericórdia do Senhor os servos de Deus poderão ser distinguidos e serão visíveis para todos. No verão, os frutos de cada árvore aparecem e se pode saber de que espécie são. Do mesmo modo, naquele mundo os frutos dos justos serão manifestos e se saberá que todos eles são vigorosos. Entretanto, naquele mundo, os pagãos e os pecadores, as árvores secas que viste, serão encontrados secos e mortos, e serão queimados, como madeira morta, patenteando-se assim que durante a vida deles sua conduta foi má. De fato, os pecadores serão queimados, porque pecaram e não fizeram arrependimento; os pagãos serão queimados porque não conheceram o seu Criador. Portanto, leva frutos em ti mesmo, para que, naquele verão, teu fruto seja conhecido. Evita muitas ocupações e não cometas nenhum pecado. Os que se carregam de muitas ocupações cometem também muitos pecados. São absorvidos por seus negócios e não servem mais em nada ao Senhor. Como poderia o homem assim pedir algo ao Senhor e ser atendido, se ele não serve ao Senhor? Os que o servem, receberão o que pedem, mas os que não o servem, não receberão absolutamente nada. Aquele que tem apenas uma ocupação, pode também servir ao Senhor; o seu pensamento não se corromperá longe do Senhor, mas o servirá, conservando pensamento puro. Se assim fizeres, poderás levar frutos para o mundo que está para chegar. Qualquer um que fizer isso, levará frutos.”

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QUINTA PARÁBOLA
CAPÍTULO 54
Eu jejuava, sentado sobre um monte, e agradecia a Deus tudo o que ele fizera por mim. Então vi o Pastor sentado junto de mim, dizendo: “Por que vieste aqui tão cedo?” (Eu respondi): “Senhor, porque estou montando guarda.” Ele perguntou: “Que quer dizer guarda?” Eu respondi: “Senhor, estou jejuando.” Ele continuou: “E que jejum é esse que estás fazendo?” Eu respondi: “Senhor, eu jejuo por costume.” Ele disse: “Não sabes jejuar para o Senhor, e esse jejum que fazes é sem valor.” Eu perguntei: “Senhor, por que dizes isso?” Ele explicou: “Digo-te que não é jejum esse que imaginas fazer. Eu te ensinarei, porém, qual é o jejum agradável e perfeito para o Senhor.” Eu disse: “Sim, senhor. Tu me farás feliz, se eu puder conhecer o jejum que agrada a Deus.” Então ele explicou: “Escuta. Deus não deseja esse jejum vazio. Com efeito, jejuando desse modo para Deus, não farás nada para a justiça. Jejua do seguinte modo: Não faças nada de mau em tua vida e serve ao Senhor de coração puro; observa seus mandamentos, andando conforme seus preceitos, e que nenhum desejo mau entre em teu coração, e crê em Deus. Se fizeres isso e o temeres, abstendo-te de toda obra má, viverás em Deus. Se cumprires essas coisas, farás um jejum grande e agradável ao Senhor.”

CAPÍTULO 55
Escuta a parábola sobre o jejum. Um homem possuía um campo e muitos escravos, e mandou plantar uma vinha numa parte do campo. Ele escolheu um servo muito fiel e estimado, chamou-o e lhe disse: “Toma conta desta vinha que plantei e, durante minha ausência, coloca as estacas. Não faças mais nada na vinha. Observa esta minha ordem e serás livre na minha casa.” Então o senhor do escravo saiu de viagem. Depois que partiu, o escravo tomou conta e estaqueou. Tendo terminado de estaquear, viu que a vinha estava cheia de mato. Então refletiu e disse: “Já executei a ordem do senhor. Agora capinarei a vinha, pois capinada ficará mais bela e, não sendo sufocada pelo mato, produzirá mais fruto. Decidido, capinou a vinha e arrancou todo o mato que havia nela. Sem o mato que a sufocava, a vinha ficou mais bela e florescente. Depois de certo tempo, o senhor do campo e do servo voltou. Foi até à vinha e, vendo que estava muito bem estaqueada, capinada, o mato extirpado e que as videiras floresciam, ficou muito satisfeito com o trabalho do escravo. Chamou então seu filho amado, que era o herdeiro, e seus amigos conselheiros. Disse-lhes o que ordenara ao escravo e tudo o que ele vira executado. Eles se alegraram com o escravo, por causa do testemunho que o patrão dera dele. Então o patrão lhe disse: “Prometi a liberdade a esse escravo, se ele executasse a ordem que lhe dera. Ele não só executou a ordem, mas fez bom trabalho na vinha, e isso me agradou muito. Portanto, como recompensa do trabalho que ele realizou, quero que seja herdeiro junto com meu filho, porque teve uma boa ideia e, ao invés de descartá-la, a realizou.” O filho do senhor aprovou a intenção de designar o escravo como seu coerdeiro. Alguns dias mais tarde, o patrão dava um banquete e enviou muita comida do banquete ao escravo. Este aceitou a comida que o senhor lhe enviara, reteve o suficiente para si e distribuiu o resto a seus companheiros de escravidão. Os companheiros o receberam, se alegraram e começaram a rezar para que ele, que os tratara tão bem, recebesse ainda mais favores do senhor. “O senhor soube de tudo o que acontecera e de novo se alegrou muito com a conduta do escravo. Chamou novamente os amigos e o filho e contou-lhes a respeito da atitude do servo quanto à comida recebida. E eles concordaram mais ainda que o servo se tornasse herdeiro juntamente com o filho do senhor.”

CAPÍTULO 56
Eu lhe disse: “Senhor, não compreendo essas parábolas, nem as poderei entender, se não me explicares.” El respondeu: “Vou te explicar tudo, e, te esclarecerei tudo que eu falar. Guarda os mandamentos do Senhor, e lhe serás agradável e contado entre os que observam seus mandamentos. Se fizeres algo de bom, além do mandamento de Deus, conseguirás glória maior e serás glorificado junto a Deus, mais do que deverias ser. Portanto, se, observando os mandamentos de Deus, acrescentares essas boas obras, te alegrarás, se as observares conforme a minha ordem.” Eu lhe disse: “Senhor, observarei tudo o que me indicares, pois sei que estás comigo.” Ele me respondeu: “Estarei contigo, pois tens esse desejo de fazer o bem, e estarei com todos os que têm o mesmo desejo. Se os mandamentos do Senhor são observados, teu jejum é muito bom. Eis como observarás o jejum que queres praticar: Antes de tudo, guarda-te de toda palavra má, de todo desejo mau, e purifica teu coração de todas as coisas vãs deste mundo. Se observares isso, teu jejum será perfeito. E jejuarás do seguinte modo: depois de cumprir o que foi escrito, no dia em que jejuares, não tomarás nada, a não ser pão e água. Calcularás o preço dos alimentos que poderias comer nesse dia e o porás à parte para dar a uma viúva, a um órfão ou necessitado e, desse modo, te tornarás humilde. Graças a essa humildade, quem tiver recebido ficará saciado e rogará ao Senhor por ti. Se jejuares como te ordenei, teu sacrifício será aceito por Deus, teu jejum será anotado, e o serviço, assim realizado, será bom, alegre e bem acolhido pelo Senhor. Observarás isso com teus filhos e toda a tua família. Desse modo, serás feliz, e todos os que ouvirem esses preceitos e os observarem, serão felizes e receberão do Senhor as coisas que pedirem.”

CAPÍTULO 57
Eu lhe pedi insistentemente que me explicasse o sentido simbólico do campo, do senhor, da vinha, do escravo que estaqueara a vinha, do filho e dos amigos conselheiros, pois compreendera que tudo isso era uma parábola. Ele me respondeu: “És muito ousado em tuas perguntas! De modo algum deves perguntar, pois, se alguma coisa se deve explicar a ti, será explicada.” Eu lhe disse: “Senhor, tudo o que me mostrares sem explicar, será inútil que eu veja, pois não compreenderei o que significa. Da mesma forma, se me contas parábolas sem explicá-las, terei ouvido em vão alguma coisa de ti.” De novo, ele me respondeu, dizendo: “Todo servo de Deus que tem o Senhor em seu coração, pode lhe pedir a compreensão e obtê-la. Ele poderá, então, explicar qualquer parábola e, graças ao Senhor, tudo o que for dito em parábolas será compreensível para ele. Os indolentes e preguiçosos para a oração, porém, vacilam em pedir ao Senhor. O Senhor é misericordioso e atende todos os que lhe pedem sem hesitação. Tu, porém, que foste fortificado pelo anjo glorioso e dele recebeste essa oração, e não és preguiçoso, por que não pedes a compreensão? Tu a receberás.” Eu repliquei: “Senhor, tendo a ti comigo, tenho necessidade de te pedir e perguntar. Com efeito, tu me mostras tudo e falas comigo. Se eu visse ou ouvisse essas coisas sem ti, pediria ao Senhor que as explicasse a mim”.

CAPÍTULO 58
Ele continuou: “Já te disse, e não faz muito, que és esperto e ousado para pedir explicação das parábolas. Como és tão perseverante, vou te explicar o sentido simbólico do campo e de tudo o mais que o acompanha, para que possas explicá-lo a todos. Escuta, portanto, e compreende. O campo é este mundo, e o dono do campo é aquele que criou todas as coisas, que as organizou e lhes deu força. O filho é o Espírito Santo, e o escravo é o Filho de Deus. As videiras são o povo, que ele mesmo plantou. As estacas são os santos anjos do Senhor, que protegem o seu povo. O mato arrancado da vinha são as iniquidades dos servos de Deus. A comida do banquete que ele enviou ao escravo são os mandamentos que ele deu por meio de seu filho. Os amigos e conselheiros, são os primeiros santos anjos criados. A viagem do senhor é o tempo que resta para a sua parusia.” Eu lhe perguntei: “Senhor, tudo isso é grande, admirável e glorioso. Como poderei, Senhor, compreender essas coisas por mim mesmo? Nenhum outro homem, ainda que fosse muito inteligente, poderia compreendê-las. Explica-me ainda, Senhor, o que vou perguntar.” Ele disse: “Se desejas alguma explicação, podes pedi-la.” Eu perguntei: “Senhor, por que o Filho de Deus aparece na parábola sob forma de escravo?”

CAPÍTULO 59
Ele respondeu: “Escuta. O Filho de Deus não aparece sob a forma de escravo,
mas com grande poder e soberania.” Eu disse: “Como, senhor? Não compreendo.” Ele continuou: “Porque Deus plantou a vinha, isto é, criou o seu povo e o entregou a seu Filho, e o Filho estabeleceu os anjos sobre eles para guardá-los individualmente. Ele próprio purificou os pecados deles, trabalhando muito e suportando muitas fadigas, pois ninguém pode capinar uma vinha sem trabalho e fadiga. Ele, portanto, tendo purificado os pecados do povo, ensinou os caminhos da vida, dando-lhes a lei, que recebera de seu Pai. Observa que ele é o senhor do povo, porque recebeu todo o poder do seu Pai. Escuta por que o Senhor nomeou seu Filho conselheiro e os anjos gloriosos para decidir a herança que deveria ser dada ao escravo. Deus fez habitar na carne que ele havia escolhido o Espírito Santo preexistente, que criou todas as coisas. Essa carne, em que o Espírito Santo habitou, serviu muito bem ao Espírito, andando no caminho da santidade e pureza, sem macular em nada o Espírito. Ela se portou digna e santamente, participou dos trabalhos do Espírito e colaborou com ele em todas as coisas. Comportou-se com firmeza e coragem e, por isso, Deus a escolheu como companheira do Espírito Santo. Com efeito, a conduta dessa carne agradou a Deus, pois ela não se maculou na terra, enquanto possuía o Espírito Santo. Ele tomou então o Filho e os anjos gloriosos por conselheiros, para que essa carne, que tinha servido ao Espírito irrepreensivelmente, obtivesse um lugar de repouso e não parecesse ter perdido a recompensa pelo seu serviço. Toda carne em que o Espírito Santo habitou e que for encontrada pura e sem mancha, receberá sua recompensa. Aí tens a explicação dessa parábola.”

CAPÍTULO 60
Eu disse: “Senhor, fiquei contente em ouvir a explicação.” Ele disse: “Escuta agora. Guarda tua carne pura e sem mancha; para que o espírito, que nela habita, dê testemunho em favor dela e assim seja justificada. Cuida para que nunca entre em teu coração a ideia de que tua carne é perecível. E cuidado para não abusar dela com alguma impureza. Se manchas tua carne, mancharás também o Espírito Santo. Portanto, se manchas tua carne, não viverás.” Eu perguntei: “Senhor, se tiver havido alguma ignorância antes que essas palavras tivessem sido ouvidas, como se pode salvar o homem que manchou a sua carne?” Ele respondeu: “Quanto às ignorâncias anteriores, somente Deus pode conceder a cura, pois ele tem todo o poder. Agora, porém, estejas atento, e o Senhor, em sua grande misericórdia, as curará, se doravante não manchares nem tua carne, nem teu espírito, pois os dois vão juntos e não podem manchar-se um sem o outro. Portanto, conserva os dois puros, e viverás em Deus.”

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Em que estas parábolas serviram para a sua espiritualidade?

quarta-feira, 26 de julho de 2017

20 - Pastor de Hermas - Capítulos 33 a 46.

20
Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
O Pastor de Hermas (155)
5º ao 12º Mandamentos - Capítulos 33-46

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QUINTO MANDAMENTO
CAPÍTULO 33
Ele me disse: “Sê paciente e prudente, e dominarás todas as ações más e realizarás toda a justiça. Se fores paciente, o Espírito Santo, que habita em ti, será límpido e não ficará na sombra de outro espírito mau. Encontrando grande espaço livre, ele ficará contente e se alegrará como o vaso em que ele habita e servirá a Deus com alegria, pois terá felicidade em si mesmo. Se sobrevier acesso de cólera, imediatamente o Espírito Santo, que é delicado, se angustiará por não ter lugar puro, e procurará afastar-se do lugar. Ele se sente sufocado pelo espírito mau e não tem mais lugar para servir a Deus como quer, porque está contaminado pela cólera. Com efeito, o Senhor habita na paciência e o diabo, na cólera. Que esses dois espíritos habitem juntos é, portanto, coisa inconveniente e má para o homem em que habitam. Se tomas uma pequenina gota de absinto e a derramas num vaso de mel, não se estraga todo o mel? O mel fica estragado pelo pouquíssimo absinto, que destrói a doçura do mel, e já não agrada ao dono, porque se tornou amargo e sem utilidade. Todavia, se não se derrama absinto no mel, o mel permanece doce e agrada muito ao seu dono. Vê: a paciência supera o melem doçura, é útil ao Senhor, que habita nela. Ao contrário, a cólera é amarga e inútil. Portanto, se se mistura a cólera com a paciência, a paciência se mancha, e sua oração não é útil para Deus.” Eu disse: “Senhor, eu desejaria conhecer a força da cólera, para me preservar dela.” Ele respondeu: “Se não te guardares com tua família, destruirás toda a esperança. Mas preserva-te dela, pois eu estou contigo. Todos os que fizerem penitência do fundo do coração se guardarão dela, porque eu estarei com eles e os protegerei. Com efeito, todos foram justificados pelo anjo santíssimo.”

CAPÍTULO 34
Ele me disse: “Escuta agora qual é a força da cólera como ela é má, como perverte os servos de Deus com sua força, e como os desvia da justiça. Ela não desvia os pleno. de fé, nem pode fazer nada contra eles, pois meu poder está com eles. Ela desvia somente os vazios e vacilantes. Quando a cólera vê essas pessoas tranquilas, insinua-se no coração delas e, por um nada, o homem ou a mulher se deixam tomar pela amargura, com os negócios da vida cotidiana, alimentação, ou qualquer futilidade, um amigo, um presente dado ou recebido, ou ainda qualquer outra ninharia. Tudo isso são coisas fúteis, vãs, insensatas e prejudiciais para os servos de Deus. A paciência, ao contrário, é grande e forte, tem força poderosa e sólida, que se expande largamente; a paciência é alegre, contente e sem preocupações, e glorifica o Senhor em todo momento. Nada nela é amargo; ela permanece sempre doce e calma. Essa paciência habita com os que têm fé íntegra. A cólera, ao contrário é, em primeiro lugar, estulta, leviana e estúpida; da estupidez nasce a amargura; da amargura a irritação; da irritação, o furor, e do furor o ressentimento. Tal ressentimento, nascido de tantos males, é pecado grave e incurável. Quando todos esses espíritos vêm habitar o mesmo vaso, onde já habita o Espírito Santo, o vaso não pode mais conter tudo e transborda. Então o espírito delicado, que não tem o costume de habitar com o espírito mau, nem com a aspereza, afasta-se de tal homem e procura habitar com a doçura e a mansidão. Mas, quando se afasta do homem em que habitava, esse homem se esvazia do espírito justo e, daí para a frente, cheio de espíritos maus, agita-se em todas as suas ações, arrastado de cá para lá pelos espíritos maus, completamente cego para todo pensamento bom. Eis o que acontece com todas as pessoas coléricas. Afasta-te, portanto, da cólera, esse espírito maligno. Reveste-te, em troca, de paciência, resiste à cólera e à amargura, e te encontrarás com a santidade, amada pelo Senhor. Estejas atento para não te descuidares desse mandamento. Se o dominares, poderás observar também os outros mandamentos, que te ordenarei. Sê forte e inabalável neles, e fortaleçam-se igualmente todos os que quiserem caminhar neles.”



SEXTO MANDAMENTO
CAPÍTULO 35
Ele me disse: “No primeiro mandamento, eu te ordenei guardar a fé, o temor e a continência.” Eu respondi: “Sim, Senhor.” Ele continuou: “Agora te explicarei as forças dele, para que conheças o poder e a eficácia que elas possuem. Suas forças são de dois tipos e estão relacionadas com o justo e com o injusto. Tem confiança no justo, mas não confies no injusto. De fato, o justo segue caminho reto, ao passo que o injusto segue caminho tortuoso. Quanto a ti, anda pelo caminho direito e plano, deixando o caminho torto. O caminho tortuoso não tem trilhas, mas é impraticável, cheio de obstáculos, pedregoso e espinhoso. Ele é fatal para os que nele caminham. Aqueles, porém, que andam pelo caminho reto, andam de
maneira uniforme e sem tropeços, porque ele não é pedregoso, nem espinhoso. Vês, portanto, que é mais conveniente seguir o caminho reto. Eu lhe disse: “Senhor, eu gosto de andar por esse caminho.” Ele me disse: “Segue-o, e siga também por ele todo aquele que se converte ao Senhor, do fundo do coração”.

CAPÍTULO 36
Ele me disse: “Ouve agora o que vou te falar sobre a fé. Há dois anjos com o homem: um é da justiça, e outro é do mal.” Eu perguntei: “Senhor, como distinguirei as ações deles, se os dois anjos habitam comigo?” Ele me respondeu: “Ouve e compreende. O anjo da justiça é delicado, modesto, doce e suave. Quando entra em teu coração, imediatamente fala contigo sobre a justiça, a castidade, a santidade,
a temperança, sobe todo ato e toda virtude nobre. Quando tudo isso entra em teu coração, saibas que o anjo da justiça está contigo, pois essas obras são próprias do anjo da justiça. Tem confiança nele e em suas obras. Vê agora as obras do anjo do mal. Em primeiro lugar, ele é colérico, amargo e insensato, e suas obras malignas os servos de Deus. Quando entra em teu coração, tu o conheces por suas obras.” Eu disse: “Senhor, não sei como poderei reconhecê-lo”. Ele continuou: “Escuta. Quando a cólera se apodera de ti, ou a amargura, saibas que ele está em ti. Da mesma forma, os desejos da atividade, dispersa os gastos loucos em numerosos festins, em bebidas inebriantes, em orgias sem fim, em requintes variados e supérfluos, paixões pelas mulheres, grande riqueza, orgulho exagerado, altivez e tudo o que se assemelha a isso, se essas coisas entram no teu coração, saibas que o anjo do mal está em ti. Reconhecendo suas obras, afasta-te dele e não creias nele, pois essas obras são más e inconvenientes para os servos de Deus. Aí tens as ações dos dois anjos. Compreende essas ações e depõe tua confiança no anjo da justiça. Afasta-te do anjo do mal, porque seu ensinamento é mau para qualquer obra. Se alguém é fiel e o pensamento desse anjo entra em seu coração, é inevitável que essa pessoa, homem ou mulher, cometa pecado. Por outro lado, se homem ou mulher são depravados e as obras do anjo da justiça entram em seu coração, é inevitável que essa pessoa faça o bem. Vê, portanto, que é bom seguir o anjo da justiça e renunciar ao anjo mau. Esse mandamento explica o que se refere à fé, para que acredites nas obras do anjo da justiça e, cumprindo-as, vivas em Deus. Acredita também que as obras do anjo do mal são funestas. Evitando-as, viverás em Deus.”

SÉTIMO MANDAMENTO
CAPÍTULO 37
Ele me disse: “Teme o Senhor e guarda seus mandamentos. Guardando os mandamentos de Deus, serás forte em tudo o que fizeres e tua ação será incomparável. Com efeito, temendo ao Senhor, farás tudo bem. Ele é o temor que precisas ter, e então serás salvo. Não temas o diabo. Temendo ao Senhor, triunfarás do diabo, pois ele não tem poder. Se alguém não tem poder, também não apresenta motivo para temor. Quem tem poder glorioso, também inspira temor. De fato, todo aquele que tem poder, inspira temor; aquele que não o tem, é desprezado por todos. Teme as obras do diabo, porque elas são más. Temendo ao Senhor, teme também as obras do diabo, e não as pratiques, mas afasta-te delas. Há duas espécies de temor. Se quiseres praticar o mal, teme ao Senhor e não o praticarás. Todavia, se quiseres praticar o bem, teme ao Senhor, e o praticarás. O temor do Senhor é forte, grande e glorioso. Teme, portanto, ao Senhor, e nele viverás. Os que o temem e observam seus mandamentos, viverão em Deus.” Eu perguntei: “Senhor, por que disseste: aqueles que observam seus mandamentos viverão em Deus?” Ele respondeu: “Porque tola a criação teme ao Senhor, mas não guarda seus mandamentos. Os que o temem e guardam seus mandamentos têm a sua vida junto de Deus. Aqueles, porém, que não guardam seus mandamentos não têm vida em si mesmos.”


OITAVO MANDAMENTO
CAPÍTULO 38
Ele continuou: “Já te disse que as criaturas de Deus são de dois tipos; a abstinência também é dupla, pois é preciso se abster de algumas coisas e de outras não.” Eu pedi: “Senhor, ensina-me de quais coisas preciso me abster e de quais não.” Ele respondeu: “Escuta. Abstém-te do mal e não o pratiques. Não te abstenhas do bem, mas pratica-o. Com efeito, se te abstiveres de praticar o bem, cometerás grande pecado; por outro lado, se te abstiveres de praticar o mal, praticarás um grande ato de justiça. Abstém-te, portanto, de todo mal e pratica o bem.” Eu perguntei: “Senhor, quais são os males de que nos devemos abster?” Ele me respondeu: “Escuta: adultério, fornicação, excesso na bebida, prazer depravado, comer em demasia, luxo da riqueza, ostentação, orgulho, altivez, mentira, maledicência, hipocrisia, rancor e todo tipo de blasfêmia. São essas as piores obras que existem na vida dos homens. O servo de Deus deve abster-se dessas obras, pois aquele que não se abstém delas, não pode viver em Deus. Escuta agora as obras que seguem a essas.” Eu perguntei: “Senhor, há ainda outras obras más?” Ele respondeu: “Muitas, das quais os servos de Deus devem se abster: o roubo, a mentira, a fraude, o falso testemunho, a avareza, os desejos maus, o engano, a vanglória, a arrogância e outros vícios semelhantes. Não te parece que tudo isso é mau?” Eu respondi: “E muito mau para os servos de Deus.” (Ele continuou): “É preciso que o servo de Deus se abstenha de tudo isso. Abstém-te, portanto, de tudo isso, para que vivas em Deus e sejas inscrito com os que se abstêm dessas coisas. São essas as coisas das quais te deves abster. As coisas das quais não te deves abster e sim praticar, são estas: não te abstenhas do bem, mas pratica-o.” Eu pedi: “Senhor, mostra-me o poder das boas ações, para que eu siga seu caminho e as sirva, a fim de que, praticando-as, possa salvar-me.”Ele respondeu: “Escuta as obras do bem, que deves praticar e não evitar. Em primeiro lugar, a fé, o temor do Senhor, a caridade, a concórdia, as palavras justas, a verdade, a perseverança. Não há nada de melhor na vida humana. Se alguém as observa e delas não se abstém, será feliz em sua vida. Escuta agora as obras que seguem a essas: assistir às viúvas, visitar os órfãos e necessitados, resgatar da escravidão os servos de Deus, ser hospitaleiro (pois na hospitalidade encontra-se por vezes a ocasião de fazer o bem), não criar obstáculos para ninguém, ser calmo, tornar-se inferior a todos, honrar os anciãos, praticar a justiça, conservar a fraternidade, suportar a violência, ser paciente, não nutrir rancor, consolar os aflitos na alma, não afastar da fé os escandalizados, mas convertê-los e dar-lhes coragem, corrigir os pecadores, não oprimir os devedores e necessitados, e outras ações semelhantes. Não te parece que essas sejam boas ações?” Eu respondi: “Que coisa é melhor do que isso, Senhor?” Ele continuou: “Anda, portanto, nesse caminho, não te abstenhas dessas coisas, e viverás em Deus. Observa este mandamento: se praticares o bem e não te abstiveres dele, viverás em Deus, e todos os que agirem assim, também viverão em Deus. E ainda, se não praticares o mal e te abstiveres dele, viverás em Deus; e todos aqueles que guardarem esses mandamentos e andarem em seus caminhos, também viverão em Deus.”

NONO MANDAMENTO
CAPÍTULO 39
Ele continuou: “Remove de ti a dúvida e por nada no mundo hesites em pedir alguma coisa a Deus, dizendo a ti mesmo: 'Como poderia eu pedir alguma coisa ao Senhor e obtê-la, tendo cometido tão grandes pecados contra ele?' Não penses assim. Ao contrário, converte-te ao Senhor, do fundo do coração, suplica-o confiante e conhecerás sua grande misericórdia, porque ele não te abandonará, mas atenderá a oração da tua alma. De fato, Deus não é como os homens rancorosos; ele não conhece o rancor e tem compaixão de sua criatura. Tu, portanto, purifica teu coração de todas as vaidades deste mundo e dos males dos quais já te falei. Suplica ao Senhor e obterás tudo; nenhuma de tuas orações será rejeitada, se suplicares ao Senhor com confiança. Contudo, se duvidares em teu coração, não alcançarás nenhum dos teus pedidos, pois os que duvidam de Deus são indecisos e não alcançam nada do que pedem. Em troca, os que são íntegros na fé, pedem tudo com plena confiança no Senhor, e são atendidos, porque pedem sem vacilar e sem incerteza. Com efeito, todo homem que duvida, se não fizer penitência, dificilmente se salvará. Portanto, purifica da dúvida o teu coração, reveste-te de fé, porque ela é forte e tem confiança que Deus atenderá todas as tuas orações. E se alguma vez pedires alguma coisa ao Senhor e ele tardar em concedê-la, não duvides porque não obtiveste logo o pedido da tua alma; certamente, tardas a receber o que pediste, por causa de alguma provação ou de algum pecado que ignoras. Não deixes, portanto, de pedir o que tua alma deseja, e o obterás. Contudo, se ao rezar caíres no desânimo e na dúvida, culpa-te a ti mesmo e não àquele que está disposto a te dar. Cuidado com a dúvida: ela é má, insensata e desenraiza da fé, não poucos, até pessoas muito fiéis e firmes, pois a dúvida é filha do diabo e faz muito mal aos servos de Deus. Despreza, portanto, a dúvida, e domina-a em tudo. Para isso, reveste-te de fé firme e poderosa. De fato, a fé tudo promete e tudo cumpre, mas a dúvida, que não tem confiança sequer em si mesma, malogra-se em toda obra que empreende. Vês, portanto, que a fé vem do alto, do Senhor, e tem grande força; a dúvida, porém, é apenas um espírito terrestre que vem do diabo e não tem força, nenhuma. Serve, portanto, à fé que
tem força e afasta a dúvida que não tem força nenhuma. Então viverás em Deus, e todos os que pensam assim também viverão em Deus.

DÉCIMO MANDAMENTO
CAPÍTULO 40
Ele continuou: “Afasta de tia tristeza, pois ela é irmã da dúvida e da cólera.” Eu perguntei: “Senhor, como é que ela é irmã delas? Parece-me que a cólera é uma coisa, a dúvida é outra, e a tristeza ainda outra coisa.” Ele me respondeu: “És
homem insensato. Não compreendes que a tristeza é o pior de todos os espíritos e o mais terrível para os servos de Deus e que, mais do que todos os espíritos, ela arruína o homem e expulsa o Espírito Santo, e depois salva?” Eu disse: “Senhor, de fato sou insensato e não compreendo essas parábolas. Com efeito, não compreendo como a tristeza pode expulsar e depois salvar.” Ele continuou: “Escuta.
Os que nunca pesquisaram a verdade, nem indagaram sobre a divindade, que se limitaram a crer, ficam presos em seus negócios, riquezas, amizades pagãs e outras numerosas ocupações deste mundo. Todos esses, que só vivem para isso, são incapazes de compreender as parábolas a respeito da divindade. Ficam obscurecidos por essas atividades, se corrompem e ficam áridos. As vinhas, antes belas, por falta de cuidados, secam por causa dos espinhos e ervas daninhas de todo tipo. Da mesma forma, os homens que abraçaram a fé e se perdem nas múltiplas atividades de que falei, extraviam-se do seu bom senso e nada mais compreendem sobre a justiça. Até mesmo quando ouvem falar sobre divindade e verdade, sua mente está em seus negócios, e nada compreendem. Todavia, os que temem a Deus, buscam a divindade e a verdade, e têm o coração voltado para o Senhor. Esses logo entendem e compreendem tudo o que se lhes diz. Eles têm em si o temor do Senhor. Com efeito, onde o Senhor habita, aí há total compreensão. Adere, portanto, ao Senhor, e compreenderás e entenderás tudo.”

CAPÍTULO 41
Ele continuou: “Escuta, portanto, insensato, como a tristeza expulsa o Espírito Santo e depois salva. Quando o vacilante empreende uma ação e não colhe êxito por causa de sua própria dúvida, a tristeza se insinua nele e entristece o Espírito Santo e o expulsa. Em seguida, a cólera se apodera da pessoa por causa de qualquer coisa, e o amargura muito. De novo, a tristeza entra no coração do homem que se irritou, o qual se entristece pelo que fez e se arrepende de ter feito o mal. Essa tristeza, portanto, parece trazer a salvação, porque, depois de ter feito o mal, a pessoa se arrepende. Essas duas atitudes entristecem o espírito: a dúvida, porque não colheu êxito no empreendimento; e a cólera, porque fez o mal. As duas entristecem o Espírito Santo. Afasta, portanto, a tristeza de ti, para não entristecer o Espírito Santo que habita em ti, a fim de que ele não suplique a Deus contra ti e de ti se afaste. Com efeito, o Espírito de Deus, que foi dado ao teu corpo, não suporta a tristeza nem a angústia.”

CAPÍTULO 42
“Reveste-te, portanto, da alegria, que agrada a Deus e ele a aceita: faze dela as tuas delicias. De fato, todo homem alegre realiza sempre o bem, pensa no bem e despreza a tristeza. O homem triste pratica sempre o mal. Em primeiro lugar, pratica o mal porque entristece o Espírito Santo, que foi dado alegre ao homem; em seguida, entristecendo o Espírito Santo, pratica a injustiça por não suplicar a Deus, nem louvá-lo. Com efeito, a oração do homem triste jamais tem a força de subir ao altar de Deus”. Eu perguntei: “Por que a súplica do homem triste não sobe ao altar?” Ele respondeu: “Porque a tristeza reside no seu coração. Unida à oração, a tristeza não permite que a oração suba pura ao altar. O vinho misturado com vinagre não tem o mesmo sabor. Igualmente acontece com a tristeza: misturada com o Espírito Santo, não conserva a própria oração. Purifica-te, portanto, dessa tristeza maligna, e viverás em Deus. E todos os que afastarem de si a tristeza e se revestirem de toda alegria, também viverão em Deus.”
DÉCIMO PRIMEIRO MANDAMENTO
CAPÍTULO 43
Ele me mostrou homens sentados num banco e outro homem sentado numa poltrona. E me disse: “Vês as pessoas sentadas no banco?” Eu respondi: “Sim, senhor.” Ele explicou: “Esses são fiéis, e o que está sentado na poltrona é falso profeta, que corrompe a inteligência dos servos de Deus, isto é, corrompe a inteligência dos que duvidam, e não dos fiéis. Aqueles que duvidam vão até ele como adivinho e lhe perguntam o que lhes acontecerá. Então esse falso profeta, sem ter em si nenhum poder do espírito divino, responde-lhes segundo o que perguntam e segundo seus maus desejos, satisfazendo-lhes a alma com o que desejam. Sendo vazio ele próprio, dá respostas vãs a homens vãos. Seja qual for a pergunta, ele responde conforme a vaidade do interrogador. Também diz coisas verdadeiras, pois o diabo o enche com o seu espírito, a fim de dobrar algum justo. Contudo, os fortes na fé do Senhor, revestidos de verdade, não aderem aos espíritos maus, mas se afastam deles. Por outro lado, os vacilantes e que mudam constantemente de opinião, consultam os adivinhos como os pagãos, e carregam-se de pecado maior que o dos idólatras. Com efeito, quem faz consulta a um falso profeta sobre alguma coisa, é idólatra, vazio da verdade e insensato. De fato, todo espírito dado por Deus não se deixa interrogar, mas, possuindo força da divindade, diz tudo espontaneamente, porque vem do alto, do poder do espírito divino. Ao invés, o espírito que se deixa interrogar e que fala conforme o desejo dos homens, é terreno e leviano, porque não tem nenhum poder. Se não é interrogado, não diz nada.” Eu lhe perguntei: “Senhor, como saber quem deles é verdadeiro e quem é falso profeta?” Ele respondeu: “Escuta o que estou para te dizer sobre ambos os profetas, e então discernirás o verdadeiro do falso profeta. Discerne pela vida o homem que tem o espírito divino. Em primeiro lugar, quem tem o espírito que vem do alto, é calmo, sereno e humilde. Ele se abstém de todo mal e de todo desejo vão deste mundo; ele se considera inferior a todos e, quando interrogado, nada responde a ninguém e não fala em particular. O Espírito Santo não fala quando o homem quer, mas só quando Deus quer que ele fale. Quando um homem, que tem o espírito de Deus, entra numa assembleia de homens justos, crentes no espírito divino, e nessa assembleia de homens justos se suplica a Deus, então o anjo do espírito profético que está junto dele, plenifica esse homem, e ele, pleno do Espírito Santo, fala à multidão conforme quer o Senhor. É desse modo que se manifesta o espírito da divindade. Tal é o poder do Senhor sobre o espírito da divindade. Escuta agora a respeito do espírito terreno e vão, que não tem poder e é insensato. Primeiro, tal homem, que julga possuir o espírito, exalta-se a si mesmo, quer ter o primeiro lugar, e logo se apresenta descaradamente, imprudente e loquaz. Vive em meio a muitas delícias e muitos outros prazeres, e aceita pagamento por sua profecia. Quando nada recebe, também não profetiza. Poderia um espírito divino receber pagamento para profetizar? Não é possível que o profeta de Deus aja desse modo; o espírito desses profetas é terreno. Além disso, ele não se aproxima da assembleia de homens justos para nada, mas foge deles. Ele se une aos vacilantes e vãos, e profetiza
para eles à parte. Engana-os, falando-lhes coisas vazias, conforme o que desejam, pois responde para gente vazia. Um vaso vazio quando bate em outro vaso vazio não quebra, apenas ressoam mutuamente. Quando o falso profeta entra em assembleia repleta de homens justos, portadores do espírito da divindade, se eles começam a rezar, tal homem se esvazia e o espírito terrestre, tomado de medo, foge dele. Tal homem emudece, completamente desorientado e incapaz de falar. Se armazenas óleo e vinho num depósito e aí colocas uma vasilha vazia, quando quiseres desocupar o depósito, encontrarás vazia essa vasilha. Igualmente acontece com os profetas vazios, quando entram em meio aos espíritos dos justos: da mesma forma que entraram, assim são encontrados. Aí tens a vida dos dois tipos de profeta. Examina, portanto, o homem que se diz portador do espírito, a partir de seus atos e de sua vida. Quanto a ti, crê no espírito que vem de Deus e tem poder, mas não creias no espírito terrestre e vazio, porque nele não existe poder. Ele vem do diabo. Escuta a parábola que vou te contar. Pega uma pedra e atira para o céu. Vê se podes atingi-lo. Ou então pega um tubo de água e atira o jato para o céu. Vê se és capaz de furar o céu.” Eu perguntei: “Senhor, como se pode fazer isso? As duas coisas que disseste são impossíveis!” Ele respondeu: “Assim como essas coisas são impossíveis, também os espíritos terrestres são impotentes e fracos. Toma agora a força que vem do alto. O granizo é grão pequenino, mas quando cai sobre a cabeça de uma pessoa, que dano lhe causa! Ou então, pega a gota de água, que cai do telhado no chão e fura a pedra. Vês, portanto, que as melhores coisas que caem do alto sobre a terra têm grande força. Da mesma forma, o espírito divino que vem do alto é poderoso. Crê, portanto,
nesse espírito e afasta-te do outro.”

DÉCIMO-SEGUNDO MANDAMENTO
CAPÍTULO 44
Ele continuou: “Arranca de ti todo mau desejo, e reveste-te do desejo bom e santo. Revestido desse desejo, odiarás o desejo mau e o domarás como quiseres. O desejo mau é selvagem e difícil de amansar. É terrível, e com sua selvageria consome os homens. Principalmente se o servo de Deus cair nesse desejo e não tiver discernimento, será consumido de modo terrível. Ele consome também os que não têm a veste do desejo bom e se deixam enredar por este mundo. O desejo entrega-os à morte”. Eu perguntei: “Senhor, quais são as obras do desejo mau, que entregam os homens à morte? Dá-me a conhecê-las, para que me afaste delas.” Ele respondeu: “Escuta com quais obras o desejo mau mata os servos de Deus.”

CAPÍTULO 45
Antes de tudo, o desejo de outra mulher ou homem, o luxo das riquezas, os banquetes numerosos e vãos, a embriaguez, e muitos outros prazeres insensatos. Com efeito, todo prazer é insensato e vazio para os servos de Deus. Tais desejos são maus, e matam os servos de Deus, porque o desejo mau é filho do diabo. E preciso, portanto, abster-se dos desejos maus para que, abstendo-vos, vivais em Deus. Todos os que são dominados por eles e não lhes resistem, acabarão morrendo, pois esses desejos são mortais. Reveste-te, portanto, do desejo da justiça e, armado do temor de Deus, resiste a eles. De fato, o temor de Deus habita no desejo bom. Se o desejo mau te vir armado do temor de Deus e resistindo, ele fugirá para longe de ti e não o verás mais, porque ele teme as tuas armas. Quanto a ti, vitorioso e coroado por sua derrota, apresenta-te diante do desejo da justiça e entrega-lhe a vitória que recebeste, e serve-o do modo que ele quiser. Se servires o desejo bom e te submeteres a ele, poderás dominar o desejo mau e comandá-lo, conforme quiseres.


CAPÍTULO 46
Eu disse: “Senhor, desejaria saber de que modo devo servir ao desejo bom.” Ele respondeu: “Escuta. Pratica a justiça e a virtude, a verdade e o temor do Senhor, a fé, a mansidão e todas as coisas boas semelhantes a essas. Praticando essas coisas, serás servo agradável de Deus e viverás nele. Todo aquele que servir ao desejo bom viverá em Deus.” Ele terminou os doze mandamentos e me disse: “Tens agora esses mandamentos. Anda em conformidade com eles e exorta os ouvintes, para que se exercitem na penitência purificadora pelo resto dos dias de sua vida. Cumpre com cuidado esse serviço que te confio. Desse modo, realizarás. Com efeito, encontrarás boa acolhida daqueles que se dispõem a fazer penitência; eles acreditarão em tuas palavras. Eu estarei contigo e os induzirei a crer em ti.” Eu lhe disse: “Senhor, esses mandamentos são grandes, sublimes e só  podem alegrar o coração do homem que for capaz de observá-los. Todavia, Senhor, não sei se esses mandamentos podem ser guardados pelo homem, pois eles são muito duros”. Ele me respondeu: “Se te convenceres de que esses mandamentos podem ser guardados, tu os guardarás facilmente, e eles não serão duros. Contudo, se se insinuar no teu coração que não podem ser guardados pelo homem, não os guardarás. Agora, porém, eu te garanto: se não os guardares e os negligenciares, nem tu, nem teus filhos, nem tua família vos salvareis, pois decidindo que esses mandamentos não podem ser guardados pelo homem, tu te condenas a ti mesmo.”

O que você deseja destacar neste texto?
O que serviu para sua espiritualidade?





quarta-feira, 19 de julho de 2017

19 - Pastor de Hermas - Capítulo 22 a 32.

19
Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
O Pastor de Hermas (155)
4ª e 5ª Visões e 1º ao 4º Mandamentos - Capítulos 22 ao 32

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QUARTA VISÃO
CAPÍTULO 22
Irmãos, esta é a visão que tive vinte dias depois da última, prefigurando a tribulação que se aproxima. Eu caminhava pela Via Campana para o meu campo, situado a uns dez estádios da via pública. O lugar é de fácil acesso. Caminhando sozinho, pedi ao Senhor que completasse as revelações e as visões que me enviou por meio de sua santa Igreja, a fim de me fortalecer e conceder a conversão aos seus servos que tropeçaram. Desse modo, seu nome sublime e glorioso será glorificado, pois ele julgou-me digno de me mostrar suas maravilhas. Eu o glorificava e lhe dava graças, quando um ruído de vozes me respondeu: Não duvides, Hermas. Comecei então a refletir e disse a mim mesmo: Que razões teria eu para duvidar, eu que sou assim sustentado pelo Senhor e que vi essas maravilhas? Avancei um pouco, irmãos, e então vi uma nuvem de poeira que se levantava até o céu, e perguntei: Será algum rebanho que se aproxima e levanta a poeira? A nuvem estava mais ou menos a um estádio de mim. Mas ela aumentava cada vez mais e eu suspeitei que fosse algo divino. Nesse momento, o sol brilhou um pouco, e então pude ver uma fera enorme, parecida com a baleia. E da sua boca saíam gafanhotos de fogo. A fera tinha cerca de cem pés de comprimento, e sua cabeça era do tamanho de um barril. Comecei a chorar e a pedir ao Senhor que me livrasse do monstro. Lembrei-me da palavra que tinha ouvido: Não duvides, Hermas. Então, irmãos, revesti-me da fé em Deus, lembrei-me de seu ensinamento sublime e, num arroubo de coragem, me expus diante da fera. Ela avançava com grande estrépito, capaz de destruir uma cidade. Aproximei-me, e a enorme baleia se estendeu pelo chão, apenas pondo para fora a língua. Ela não fez nenhum outro movimento, até que passei por ela. A fera tinha quatro cores na cabeça: preto, avermelhado de fogo e sangue, dourado e branco.

CAPÍTULO 23
Eu ultrapassara a fera, e continuei uns trinta pés, quando veio ao meu encontro uma jovem adornada, como se estivesse saindo do quarto nupcial, toda vestida de branco, com sandálias brancas, coberta até a fronte, com mitra cobrindo a cabeça. Seus cabelos eram brancos. Pelas visões anteriores, reconheci que era a Igreja, e fiquei muito contente. Ela me saudou, dizendo: Bom dia, homem. Eu lhe respondi com a mesma saudação: Bom dia, senhora. Ela me perguntou: Não encontraste nada? Eu lhe respondi: Senhora, encontrei uma fera tão grande, que seria capaz de aniquilar povos. Mas, pelo poder e misericórdia do Senhor, consegui escapar dela. Então me disse: Tiveste a felicidade de escapar, porque entregaste tua preocupação a Deus, abriste teu coração ao Senhor, acreditando que não poderias ser salvo de outro modo, senão pelo seu Nome grande e glorioso. Por isso, o Senhor enviou o seu anjo, aquele que está à frente das feras selvagens, cujo nome é Tegri: ele fechou a boca da fera, a fim de evitar que ela te devorasse. Por tua fé, escapaste de grande tribulação, pois a visão de tão grande fera não te fez duvidar. Portanto, agora vai, e explica as grandezas do Senhor aos seus eleitos. Dize-lhes que essa fera é a prefiguração da grande tribulação que está para chegar. Se vos preparardes e de todo coração fizerdes penitência diante do Senhor, podereis escapar da tribulação. É preciso, porém, que vosso coração se tome puro e irrepreensível, e que sirvais irrepreensivelmente ao Senhor pelo resto de vossos dias. Entregai ao Senhor as vossas preocupações, e ele as resolverá. Crede no Senhor que tudo pode, vós que duvidais. Ele desvia sua ira de vós e envia flagelos para vós que duvidais Ai daqueles que ouvirem essas palavras e não as aceitarem. Seria melhor para eles não ter nascido.

CAPÍTULO 24
Perguntei-lhe então sobre as quatro cores que a fera tinha na cabeça. Ela me respondeu: Estás novamente curioso a respeito dessas coisas. Eu lhe disse: Sim, senhora. Dá-me a conhecer o que significa isso. Ela disse: Escuta. A cor negra é este mundo em que habitais; o avermelhado de fogo e sangue quer dizer que este mundo deverá perecer pelo fogo e pelo sangue. A parte dourada sois vós, que fugistes deste mundo. Com efeito, o ouro é provado pelo fogo e se torna útil. Da mesma forma, vós que habitais no mundo sois provados. Vós que perseverais e resistis à prova do fogo, sereis purificados. Assim como o ouro deixa sua escória, vós também deixareis toda tristeza e angústia, e sereis purificados e úteis para a construção da torre. A parte branca é o mundo que se aproxima, onde habitarão os eleitos de Deus, pois os eleitos de Deus para a vida eterna serão puros e sem mancha. Quanto a ti, não cesses de falar aos santos. Tendes a prefiguração da grande tribulação que se aproxima. Se quiserdes, porém, ela não será nada. Lembrai vos do que foi escrito antes. Tendo dito isso, ela foi embora, e eu não vi por onde se foi. Apareceu uma nuvem e eu, apavorado, voltei-me para olhar para trás, com a impressão de que a fera estivesse voltando.

QUINTA VISÃO
CAPÍTULO 25
Eu estava rezando em casa, sentado na cama, quando vi entrar um homem de aparência gloriosa, vestido com roupas de pastor, coberto com pele branca de cabra, com o bornal nas costas e o cajado na mão. Saudou-me e respondi à saudação. Imediatamente ele sentou ao meu lado, e me disse: Fui enviado pelo anjo mais venerável, para morar contigo pelo resto da tua vida. Pareceu-me que ele estava ali para me provar. Eu lhe perguntei: Quem és tu? Eu sei muito bem a quem fui confiado. Ele me disse: Não me reconheces? Eu respondi: Não. Ele continuou: Eu sou o Pastor, a quem foste confiado. Ele ainda falava, quando seu aspecto mudou, e então o reconheci: era justamente aquele a quem eu fora confiado. Logo a seguir, cheio de confusão, fui tomado pelo medo e completamente arrasado pela tristeza. Será que eu o tinha tratado de forma desconsiderada e insensata? Ele, porém, me respondeu: Não te perturbes. Ao contrário, fortalece-te com os mandamentos que te darei, pois fui enviado para te mostrar, ainda uma vez, tudo o que viste antes, os principais pontos úteis para vós. Quanto a ti, anota tudo sobre os mandamentos e as parábolas. Escreverás as outras coisas, conforme eu te indicar. Ordeno que escrevas primeiro os mandamentos e as parábolas, para que possas lê-los e observá-los imediatamente. Então escrevi os mandamentos e as parábolas, conforme ele me ordenara. Se vós os escutardes e observardes, se caminhardes neste caminho e os puserdes em prática com o coração puro, recebereis do Senhor tudo o que vos prometeu. Todavia, se depois de escutardes, não vos converterdes, se continuardes a pecar, recebereis do Senhor o contrário. Eis aqui tudo o que o Pastor, o anjo da penitência, me ordenou que escrevesse.

PRIMEIRO MANDAMENTO
CAPÍTULO 26
“Antes de tudo, crê que existe um só Deus, que criou e organizou o universo, fazendo passar todas as coisas do não-ser para o ser, que contém tudo e ele próprio não é contido por nada. Crê nele e teme-o, e temendo-o, sê continente. Observa isso e afasta de ti todo mal, para que sejas revestido de toda virtude de justiça, e viverás para Deus, se observares esse mandamento.”

SEGUNDO MANDAMENTO
CAPÍTULO 27
Ele me disse: “Sê simples e inocente, e serás como as crianças que não conhecem o mal que destrói a vida dos homens. Em primeiro lugar, não fales mal de ninguém, nem ouças com prazer o maledicente. Do contrário, participarás do pecado do maledicente, se acreditares na maledicência que ouves. Pois, acreditando nisso, também ficarás hostil ao teu irmão, e participarás do pecado do maledicente. A maledicência é má, é demônio agitado, que nunca está em paz, e só sente prazer nas discórdias. Fica longe dele, e tuas relações com todos serão sempre perfeitas. Sê reservado. Com reserva, não há mau tropeço, mas tudo é plano e alegre. Realiza o bem e, do produto do trabalho que Deus te concede, dá com simplicidade a todos os necessitados, sem te preocupares a quem darás ou não. Dá a todos, porque Deus quer que seus próprios bens sejam dados a todos. Os que recebem prestarão contas a Deus do motivo e finalidade daquilo que tiverem recebido: os que receberem por necessidade não serão julgados, mas os que enganarem para receber, serão punidos. Aquele que dá é irrepreensível, pois realiza com simplicidade o serviço, conforme recebeu do Senhor, sem discriminar a quem dá ou não. O serviço, assim realizado na simplicidade, subsistirá em Deus. Observa, portanto, esse mandamento, conforme te ordenei, para que tua conversão e a da tua casa sejam encontradas simples, puras, inocentes e incorruptíveis.”

TERCEIRO MANDAMENTO
CAPÍTULO 28
Ele me disse novamente: “Ama a verdade, e apenas a verdade saia de tua boca, para que o espírito, que Deus colocou nesse corpo, seja encontrado verdadeiro por todos os homens. Assim, o Senhor, que habita em ti, será glorificado, porque o Senhor é verdadeiro em todas as palavras, e nele não há mentira. Os mentirosos renegam o Senhor e o despojam, não lhe restituindo o depósito recebido. De fato, receberam dele um espírito que não mente. Se o restituem mentiroso, transgridem o mandamento do Senhor e se tornam fraudulentos.” Ouvindo isso, eu chorei muito. Vendo-me chorar, ele me disse: “Por que choras?” Eu respondi: “Senhor, porque não sei se posso me salvar.” Ele perguntou: “Por quê?” Eu continuei: “Senhor, é porque na minha vida eu nunca disse palavra verdadeira, mas sempre vivi usando de fraude para com todos e fiz com que minhas mentiras passassem por verdades aos olhos de todos. Ninguém jamais me contradisse. Ao contrário,
sempre confiaram em minha palavra. Senhor, como posso viver, tendo feito isso?” Ele me disse: “Tu pensas bem e verdadeiramente. De fato, era preciso que, como servo de Deus, tivesses caminhado na verdade. A má consciência não deveria habitar com o espírito da verdade e trazer tristeza ao espírito santo e verdadeiro.” Eu disse: “Senhor, jamais ouvi palavras tão exatas.” Ele continuou: “Agora, porém, estás ouvindo. Observa-as, a fim de que também as mentiras que disseste antes em teus negócios, agora tenham credibilidade, ao verem que a tua linguagem hoje é verdadeira. Se observares essas coisas e, a partir de agora, disseres só a verdade, poderás adquirir a vida. E todo aquele que observar esse mandamento e se abstiver desse grande vício da mentira, viverá em Deus.”

QUARTO MANDAMENTO

CAPÍTULO 29
Ele me disse: “Eu te ordeno guardar a castidade e que não entre em teu coração o desejo de outra mulher, nem de qualquer fornicação, nem de qualquer outro vício semelhante. Porque, se fizeres isso, cometerás grande pecado. Lembra-te sempre de tua esposa, e jamais pecarás. Se esses desejos entrarem em teu coração, pecarás; e se entrarem outras coisas igualmente más, também cometerás pecado, pois tal desejo é grande pecado para o servo de Deus. Se alguém realiza esse ato vicioso, prepara a morte para si mesmo. Portanto, estejas atento. Evita esse desejo, pois onde habita a santidade, no coração do homem justo, a iniquidade não deve entrar.” Eu lhe disse: “Senhor, permite-me apresentar algumas questões.” Ele respondeu: “Podes perguntar.” Eu continuei: “Senhor, se alguém tem esposa que crê no Senhor, e descobre que ela é adúltera, esse homem comete pecado vivendo com ela?” Ele me respondeu: “Enquanto ele não sabe, não comete pecado. Mas se fica sabendo do pecado de sua mulher e que ela, ao invés de se arrepender, persiste no adultério, o marido, vivendo com ela, se torna
cúmplice de sua falta e participa no adultério dela.” Então perguntei: “Se a mulher persiste nessa paixão, o que o marido deverá fazer?” Ele respondeu: “Deve repudiá-la e viver sozinho. Contudo, se depois de ter repudiado sua mulher, ele se casar com outra, então ele também comete adultério.” Eu disse: “Senhor, e se a mulher depois de ter sido repudiada, se arrepender e quiser voltar a seu marido, ele deverá acolhê-la?” Ele continuou: “Sim. E se o marido não a receber, ele cometerá pecado e carrega-se de grande culpa. E preciso acolher aquele que peca e se arrepende, mas não muitas vezes. Para os servos de Deus existe apenas uma conversão. É em vista dessa conversão que o homem não deve se casar de novo. Essa obrigação vale tanto para a mulher como para o homem. O adultério não é apenas macular o corpo. Quem vive como os pagãos, também comete adultério. Portanto, se alguém persiste nessa conduta sem se converter, afasta-te e não vivas mais com ele. Caso contrário, serias cúmplice do seu pecado. A razão por que se ordena permanecer sozinho, tanto o homem como a mulher, é porque em tal caso é possível o arrependimento. “Contudo, não quero dar tal pretexto para que alguém faça isso, e sim impedir que o pecador recaia no pecado. Para quem pecou antes, existe quem pode curá-lo: é aquele que tem poder sobre todas as coisas”.

CAPÍTULO 30
Continuei a perguntar: “Uma vez que o Senhor julgou-me digno de habitares sempre comigo, suporta ainda algumas interrogações, pois nada compreendo, e meu coração se endureceu, por causa de minhas ações passadas. Ensina-me, pois sou totalmente desprovido de inteligência e não compreendo absolutamente nada.” Ele me respondeu: “Estou encarregado da conversão e concedo inteligência a todos o que se arrependem. Não te parece que o fato de se arrepender é em si
mesmo inteligência? O arrependimento é ato de grande inteligência. Com efeito, o pecador compreende que fez o mal diante do Senhor, e que o ato que ele cometeu entra no coração, então se arrepende e não pratica mais o mal. Ao contrário, ele se empenha com todo o zelo a praticar o bem, humilha e experimenta a sua alma, pois ela pecou. Vês, portanto, que o arrependimento é ato de grande inteligência.” Eu disse: “Senhor, é por isso que te pergunto essas coisas com minúcias. Primeiro, porque sou um pecador que desejo saber o que devo fazer para viver, pois meus pecados são muitos e numerosos.” Ele disse: “Viverás, se observares meus mandamentos e seguires seus caminhos. Quem ouvir esses mandamentos
e os observar, viverá em Deus.”

CAPÍTULO 31
Eu disse: “Senhor, ainda quero te fazer outra pergunta.” Ele respondeu: “Pergunta.” Continuei: “Ouvi alguns doutores dizerem que não há outra conversão além daquela do dia em que descemos à água e recebemos o perdão dos pecados anteriores.” Ele me respondeu: “Ouviste bem. E assim mesmo. Aquele que recebeu o perdão de seus pecados não deveria mais pecar, e sim permanecer na pureza. Entretanto, como queres saber tudo com pormenores, eu te explicarei também isso, sem dar pretexto para pecar aos que hão de crer ou aos que começaram agora a crer no Senhor, pois tanto uns como outros não têm necessidade de fazer penitência de seus pecados, pois seus pecados passados já foram abolidos. Para os que foram chamados antes destes dias, o Senhor estabeleceu uma penitência, pois o Senhor conhece os corações. E sabendo tudo de antemão, ele conheceu a fraqueza dos homens e a esperteza do diabo em fazer o mal aos servos de Deus e exercer sua malícia contra eles. Sendo misericordioso, o Senhor teve compaixão de sua criatura e estabeleceu a penitência, e deu-me o poder sobre ela. Todavia, eu te digo: se, depois desse chamado importante e solene, alguém, seduzido pelo diabo, cometer pecado, ele dispõe de uma só penitência; contudo, se peca repetidamente, ainda que se arrependa, a penitência será inútil para tal homem, pois dificilmente viverá.” Então eu lhe disse: “Senhor, sinto-me reviver depois de ouvir essas coisas tão pormenorizadamente, pois sei que serei salvo, se eu não continuar a pecar.” Ele me disse: “Serás salvo, tu e todos os que fizerem essas coisas.”

CAPÍTULO 32
Eu lhe perguntei novamente: “Senhor, já que toleraste uma vez minhas interrogações, esclarece-me também este ponto.” Ele respondeu: “Podes falar.” Eu disse: “Senhor, se uma mulher ou um homem morre e o cônjuge se casa de novo, este último peca por se casar?” Ele respondeu: “Não peca, mas, se permanece sozinho, adquire maior honra e glória diante do Senhor. Se ele se casa, porém,
não comete pecado. Observa, portanto, a castidade e a santidade, e viverás em Deus. Observa tudo o que te digo e te direi a partir deste dia em que me foste confiado, e habitarei em tua casa. Alcançarás o perdão de teus pecados passados, contanto que observes os meus mandamentos. Também os outros serão perdoados, se observarem meus mandamentos e se caminharem nessa castidade.”




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